quarta-feira, 27 de março de 2013
Correria
Com a garganta seca e os olhos ardendo, ela corria. Corria, corria, corria. Tanto que suas pernas não saberiam mais parar. Corria especialmente porque não sabia para onde ia. Só sabia que não podia mais permanecer, ficar, continuar. Corria tão rápido que nada à sua volta existia. Tudo era borrão. Mas qualquer borrão era melhor do que aquele vazio em que costumava estar mergulhada. Aquele monte de nada que a sufocava. A velocidade do seu pensamento acompanhava agora a velocidade das suas pernas. Como que para tirar o atraso causado por aquele pensamento único que por tanto tempo a havia assombrado. Morrer não era mais uma possibilidade. Naquele deslocamento acelerado e desenfreado a morte nunca a alcançaria. Pensou em tudo que poderia ter sido e em tudo que ainda seria. Pensou em todos que vieram antes dela para que ela estivesse ali correndo como o sangue nas suas veias, e desejou que houvesse alguém que a sucedesse um dia. Correu tanto que deu uma volta inteira no mundo. Nem notou quando passou pelo seu ponto de partida. Não conseguia ter tempo de sentir fome, cansaço ou frio. Deu voltas e voltas. Seu repertório de pensamentos gastou mais rápido do que ela pensava. Um pensamento único voltou à sua cabeça. O mundo inteiro passando era o mesmo que nada. Nem o borrão ela enxergava mais. Correr era o mesmo que estar parada. Não era morte. Mas também não era vida.
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