segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Poderosa Afrodite

Naquela noite, como nas outras, depois de satisfazer seus cinco ou dez escolhidos, dependendo da sorte e do ponto de vista, ela parou para chorar por ele. A falta dele doía nela. Não como essas dores que vão gastando com o tempo e ficando cada vez mais desbotadas até se tornarem uma sombra de dor, mas daquelas que vão corroendo pedacinho por pedacinho, devastando cada vez mais profundamente a alma até que não se saiba mais quem se é ou o motivo de continuar vivendo. Ele, que ela vira apenas uma vez mas amava mais do que a si mesma e que fôra afastado dela por sua própria irracionalidade ou covardia. Ah, arrependimento! Por que não me mata logo de uma vez? Era o que ela pensava ao derramar aquelas mesmas lágrimas encharcando mais uma vez a cama em que ganhava a vida. Não havia como voltar atrás. Ela não sabia o endereço dele, seu telefone, nem ao menos o seu nome. Talvez fosse mesmo melhor ele não saber da existência dela. Talvez ele a odiasse por ter se afastado dele. Talvez a profissão dela o desagradasse. Decidiu que definitivamente não poderia pensar em procurá-lo enquanto não mudasse de vida. Percebeu que a vida não estava disposta a deixá-la mudar. Enxugou as últimas lágrimas daquela madrugada, apagou a luz do abajur e fechou os olhos para tentar dormir. De olhos fechados, tudo que ela via era a imagem dele. Ele, que ela vira apenas uma vez mas amava mais do que a si mesma e que saíra de dentro dela sem nunca ter sido parido do seu pensamento.

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