segunda-feira, 30 de abril de 2012

Significado do nome Marcela

Não sou aquela que vem de Marte
Não acho que pareça com um martelo
Tampouco sou o feminino de Marcelo

Mas sei que o meu Corpo é uma Cela
Inundada pela minha Alma Mar
Que a Cela é preenchida
Mas não consegue conter todo o Mar
O Mar transborda e vai muito além
Da sua parte visível porque contida na Cela
Sou eu a união temporária desses dois elementos
Porque o tempo corrói a Cela pouco a pouco
Um dia suas barras hão de arrebentar
Mas esse Mar temperamental
Ora calmo, ora revolto
Permanecerá porque é eterno
E almeja um dia ser puro e cristalino
Para não mais em Celas precisar se aprisionar
E correr livremente junto com o oceano de Mares que há

terça-feira, 17 de abril de 2012

Saudade

Se arruma como quem tem pressa
Lança um olhar de não sei quem é você
Se perfuma para me impregnar
Me beija nos lábios para me confundir
Me cospe para eu não implorar
Me ofende para não perder o costume
Jura que nem sabe o que é amor
Diz que não foi bom para deixar saudade
Toma de volta tudo que me deu
Joga na cara todos os meus defeitos
Se delicia com as minhas lágrimas
Devora a minha autoestima
Garante que não vai mais me ver
Parte como quem nunca quis ficar
Me deixa sozinha juntando os pedaços
Depois volta, me toma, me dobra, me satisfaz
E faz tudo de novo como quem sempre quer mais

domingo, 15 de abril de 2012

"A Pedra" ou "Minha singela homenagem a Carlos Drummond de Andrade"


Era uma vez uma moça e seu caminho. Tinha escolhido qual seguir e o seguiu livremente até o fim. Chegando lá, não sentiu nada. Não tinha a graça que pensava que teria. Tudo tinha sido tão fácil. Podia escolher um novo caminho como continuação daquele, mas ficou com preguiça. Se acomodou onde estava. Afinal, para que andar mais se isso não gerava nenhuma satisfação? Não foi infeliz, mas também não soube dizer se foi feliz.



Era outra vez outra moça e seu caminho. No meio do caminho tinha um buraco.  Um buraco que não dava para pular ou contornar. Ela tentou, tentou, mas não conseguiu passar. Triste que estava, deu ré e escolheu outro caminho. Sabia que não era exatamente o seu caminho. Mas o que podia fazer? Soube de outras pessoas que não tinham encontrado obstáculo nenhum. Soube também de algumas que tinham encontrado obstáculos mas que, com a esperança e a persistência, tinham conseguido superar. Mas ela tinha certeza de que nenhum deles tinha encontrado um buraco como o seu. Impossível de ultrapassar. Se conformou com o seu novo caminho confiando que aquele devia ser o seu destino e que, embora não fosse o que ela tinha escolhido, seria para o bem. Dessa maneira, conseguiu seguir com alegria. Mas no meio do novo caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho. Uma pedra que não dava para ultrapassar. Mas será possível tanto azar? Por que justo ela não conseguia seguir em frente tranquilamente como todo mundo? Sentou e chorou por três dias sem parar. Se revoltou com a divindade que permitia aquela injustiça. Quando as lágrimas secaram e viu que de nada adiantavam, começou a pensar, pensar e testar todas as possibilidades. Depois de seis dias de trabalho infrutífero, teve um estalo. Pegou a pedra e foi rolando ela para trás andando de ré mais uma vez. Chegou ao ponto de onde tinha partido e enxergou seu antigo caminho. Estava muito cansada, mas não quis parar para descansar. Trilhou seu caminho dos sonhos empurrando sua pedra que, como ela esperava, encaixou perfeitamente no buraco. Enfim, ela pôde passar e viu que o outro lado era tudo que esperava. Sentiu tamanha satisfação que tinha vontade de pular sem parar. Se achou a pessoa mais sortuda do mundo. Uma vez alcançado o que seria o fim, pensou novas trilhas para continuar seguindo em frente rumo ao desconhecido, sem medo de pedras e buracos. E sabendo que, às vezes, os desvios do caminho são partes do caminho e que caminhar é delicioso mesmo com todas as dificuldades.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Estátua

Ela estava andando em direção ao supermercado quando, de repente, seu coração parou. Ou foi isso que pareceu que estava acontecendo na hora. Sem dar mais um passo, olhou em todas as direções, começou a suar frio e pensou que ia desmaiar. Como depois de um minuto infinito ela continuava de pé e congelada, achou por bem gritar. Não para pedir ajuda, mas para verificar se era capaz. Esqueceu-se de abrir a boca e o som bateu e voltou, enchendo seus pulmões de desespero. A multidão que passava por ela na rua mais movimentada do bairro nem parecia notar aquela estátua viva sem fantasia. Por isso mesmo, ninguém parou para ajudar. Algumas horas se passaram e ela continuava ali, sem ser mais capaz de mexer um músculo voluntário sequer. Seus sentimentos foram se transformando. Depois de tanto tempo, sabia que não desmaiaria mais. Ou será que desmaiaria de fome? Mas a agonia foi dando lugar a uma paz estranha. Do desespero ela passou a um tipo de meditação. Observou tudo que estava fora. Para cada um que passava, ela inventava internamente um nome e uma pequena historinha. Passaram por ali a Beatriz que estava indo buscar o filho na escola, o Mário que estava voltando de um encontro com a amante, o Augusto, coitado, que tinha acabado de ser demitido, a dona Laura que não sabia de onde vinha e para onde ia, o Josué que na falta de namorado passeava com os cachorros e mais um mundão de gente que ela conheceu sem se apresentar nem se mexer. Com o cair da noite, a rua foi ficando cada vez mais vazia. A brincadeira já tinha dado o que tinha que dar e nada de conseguir sair daquele estado de imobilidade. Passou a olhar para dentro. Revisitou o seu passado, suas saudades, suas lembranças mais prazerosas, suas frustrações. Lembrou-se do futuro que ela esperou e nunca aconteceu. Perdoou a si mesma por todos os erros cometidos, por todas as lágrimas vãs e pela falta de coragem para fazer o que era preciso às vezes. Olhou no fundo dos olhos da sua própria humanidade, tão imperfeita, mas aceitou o que viu. Conseguiu, usando o que parecia ser toda a sua força, virar para o lado e se deparou com a prateleira de chocolate. Mas ela não tinha ficado congelada no caminho durante todo o tempo? Pensou. Como chegou onde queria sem dar nenhum passo? É claro que tinha dado não um, mas muitos, sem se dar conta do movimento. Pensando que estava parada ela caminhava para o seu objetivo. Ao se dar conta, todos os músculos foram desenferrujando e conseguiu se movimentar até com mais leveza e graciosidade do que antes. Comprou dez barras do seu chocolate preferido e voltou para casa cantando bem alto sem se importar com o que os outros iriam pensar.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Ainda dá tempo

Olhou para o horizonte em um lugar de onde, sem explicação, dava para ver o mundo inteiro. Ou pelo menos grande parte dele. Todos aqueles monumentos, que ela planejava um dia visitar, estavam ali. De longe, mas ao alcance dos olhos. Num segundo de pura mágica todos se acenderam. Como num parque de que ela se lembrava, mas onde não estava. E, naquele momento, todos do mundo estavam em festa. Se ela forçasse bem os ouvidos poderia ouvir a queima de fogos num país distante. Bem perto dela, tinha um chafariz brasileiro desengonçado tentando fazer uma dança de águas que mais parecia um desperdício da mesma. Desejou sair dali e viajar, viajar, viajar. Tanta coisa para conhecer, para viver, experimentar, explorar... Mas sentiu que algo de errado estava acontecendo. Do céu veio uma bola de fogo gigante e ela estava caindo bem na sua direção. Foi um milésimo de segundo entre a percepção do fato e suas consequências. Não sentiu dor alguma. Mas uma onda de energia lhe percorreu o corpo como se o sol estivesse morando dentro dela. Tinha consciência de que aquela vida já era. Não se revoltou nem se entristeceu. Pensou que seria uma hora de reencontro, uma volta para casa. Um "game over" numa missão de um jogo virtual. Simplesmente esperou. Esperou que a viessem buscar e que tudo que ela acreditava que existia do lado de lá fosse verdade, sem medo de que não houvesse um lado de lá. Acordou e viu que viu que ainda não tinha chegado a hora. Aquela energia estranha ainda percorria o seu sangue e parecia irradiar. Era mais um sonho. Mais um desses onde o fim era o fim. E embora fosse apenas um sonho, ela se sentia mais preparada para aceitar o momento quando ele chegasse. Ter medo da morte é ter medo da vida. Viver não é sobreviver. É se expor.