Era uma vez uma moça e seu caminho. Tinha escolhido qual
seguir e o seguiu livremente até o fim. Chegando lá, não sentiu nada. Não tinha
a graça que pensava que teria. Tudo tinha sido tão fácil. Podia escolher um
novo caminho como continuação daquele, mas ficou com preguiça. Se acomodou onde
estava. Afinal, para que andar mais se isso não gerava nenhuma satisfação? Não
foi infeliz, mas também não soube dizer se foi feliz.
Era outra vez outra moça e seu caminho. No meio do caminho
tinha um buraco. Um buraco que não dava
para pular ou contornar. Ela tentou, tentou, mas não conseguiu passar. Triste
que estava, deu ré e escolheu outro caminho. Sabia que não era exatamente o seu
caminho. Mas o que podia fazer? Soube de outras pessoas que não tinham
encontrado obstáculo nenhum. Soube também de algumas que tinham encontrado obstáculos
mas que, com a esperança e a persistência, tinham conseguido superar. Mas ela
tinha certeza de que nenhum deles tinha encontrado um buraco como o seu.
Impossível de ultrapassar. Se conformou com o seu novo caminho confiando que
aquele devia ser o seu destino e que, embora não fosse o que ela tinha
escolhido, seria para o bem. Dessa maneira, conseguiu seguir com alegria. Mas
no meio do novo caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho.
Uma pedra que não dava para ultrapassar. Mas será possível tanto azar? Por que
justo ela não conseguia seguir em frente tranquilamente como todo mundo? Sentou
e chorou por três dias sem parar. Se revoltou com a divindade que permitia
aquela injustiça. Quando as lágrimas secaram e viu que de nada adiantavam,
começou a pensar, pensar e testar todas as possibilidades. Depois de seis dias
de trabalho infrutífero, teve um estalo. Pegou a pedra e foi rolando ela para
trás andando de ré mais uma vez. Chegou ao ponto de onde tinha partido e
enxergou seu antigo caminho. Estava muito cansada, mas não quis parar para
descansar. Trilhou seu caminho dos sonhos empurrando sua pedra que, como ela
esperava, encaixou perfeitamente no buraco. Enfim, ela pôde passar e viu que o
outro lado era tudo que esperava. Sentiu tamanha satisfação que tinha vontade
de pular sem parar. Se achou a pessoa mais sortuda do mundo. Uma vez alcançado
o que seria o fim, pensou novas trilhas para continuar seguindo em frente rumo
ao desconhecido, sem medo de pedras e buracos. E sabendo que, às vezes, os
desvios do caminho são partes do caminho e que caminhar é delicioso mesmo com
todas as dificuldades.
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