terça-feira, 10 de abril de 2012

Estátua

Ela estava andando em direção ao supermercado quando, de repente, seu coração parou. Ou foi isso que pareceu que estava acontecendo na hora. Sem dar mais um passo, olhou em todas as direções, começou a suar frio e pensou que ia desmaiar. Como depois de um minuto infinito ela continuava de pé e congelada, achou por bem gritar. Não para pedir ajuda, mas para verificar se era capaz. Esqueceu-se de abrir a boca e o som bateu e voltou, enchendo seus pulmões de desespero. A multidão que passava por ela na rua mais movimentada do bairro nem parecia notar aquela estátua viva sem fantasia. Por isso mesmo, ninguém parou para ajudar. Algumas horas se passaram e ela continuava ali, sem ser mais capaz de mexer um músculo voluntário sequer. Seus sentimentos foram se transformando. Depois de tanto tempo, sabia que não desmaiaria mais. Ou será que desmaiaria de fome? Mas a agonia foi dando lugar a uma paz estranha. Do desespero ela passou a um tipo de meditação. Observou tudo que estava fora. Para cada um que passava, ela inventava internamente um nome e uma pequena historinha. Passaram por ali a Beatriz que estava indo buscar o filho na escola, o Mário que estava voltando de um encontro com a amante, o Augusto, coitado, que tinha acabado de ser demitido, a dona Laura que não sabia de onde vinha e para onde ia, o Josué que na falta de namorado passeava com os cachorros e mais um mundão de gente que ela conheceu sem se apresentar nem se mexer. Com o cair da noite, a rua foi ficando cada vez mais vazia. A brincadeira já tinha dado o que tinha que dar e nada de conseguir sair daquele estado de imobilidade. Passou a olhar para dentro. Revisitou o seu passado, suas saudades, suas lembranças mais prazerosas, suas frustrações. Lembrou-se do futuro que ela esperou e nunca aconteceu. Perdoou a si mesma por todos os erros cometidos, por todas as lágrimas vãs e pela falta de coragem para fazer o que era preciso às vezes. Olhou no fundo dos olhos da sua própria humanidade, tão imperfeita, mas aceitou o que viu. Conseguiu, usando o que parecia ser toda a sua força, virar para o lado e se deparou com a prateleira de chocolate. Mas ela não tinha ficado congelada no caminho durante todo o tempo? Pensou. Como chegou onde queria sem dar nenhum passo? É claro que tinha dado não um, mas muitos, sem se dar conta do movimento. Pensando que estava parada ela caminhava para o seu objetivo. Ao se dar conta, todos os músculos foram desenferrujando e conseguiu se movimentar até com mais leveza e graciosidade do que antes. Comprou dez barras do seu chocolate preferido e voltou para casa cantando bem alto sem se importar com o que os outros iriam pensar.

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